terça-feira, 20 de setembro de 2011

O fogo que na branda cera ardia by Luíz Vaz de Camões

O fogo que na branda cera ardia, 
Vendo o rosto gentil que eu na alma vejo, 
Se acendeu de outro fogo do desejo, 
Por alcançar a luz que vence o dia. 


Como de dous ardores se incendia, 
Da grande impaciência fez despejo, 
E, remetendo com furor sobejo, 
Vos foi beijar na parte onde se via. 


Ditosa aquela flama, que se atreve 
A apagar seus ardores e tormentos 
Na vista de que o mundo tremer deve! 


Namoram-se, Senhora, os Elementos 
De vós, e queima o fogo aquela neve 
Que queima corações e pensamentos.

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